inverno 2010
As Gêmeas já tem signos de sua marca que fazem qualquer um identificar um desfile delas com facilidade. Preto e branco, alfaiataria, um clima rock, detalhes dourados. Dessa vez, o clima é mais romântico do que nunca, com a ajuda do lúdico dos bordados e das padronagens nos tricôs. Não pense que com isso o visual ficou infantilizado – a maquiagem dark, o maxipullover e os acessórios dourados ajudaram a aumentar a “média da idade”! Imagens de ursinho, cavalinho de carrossel, casinha, tudo bem colorido em cima de looks chiques em acetinado azul, preto… A ideia era passar emoções com a apresentação – tipo quando você ouve uma música linda. Com o clima do parque, o estado de espírito bacana de ter acabado de ver o Fashion Mob que aconteceu imediatamente antes, o apelo pra recordações da infância, e uma coleção bem amarrada… Carol e Isadora Krieger fizeram, sim, um desfile emocionante!
Jorge Wakabara
no parque da luz
E lúdico é a chave central para entender o encantador desfile da marca. Entre os jogos e o sonho podemos abrir uma porta para a infância da grife e perceber o quanto elas dialogam –faz tempo – com a estética dos anos 1920 e como os anos loucos e toda liberação que a mulher ganhou naquele período é fundamental na construção da marca dessas duas jovens estilistas.
As formas soltas, com a silhueta mais fluida e a cintura na altura do quadril – estilo anos 1920 – dominaram os looks da coleção assim como os belos acessórios (brincos) criados por Christopher que lembram lustres inspirados no art nouveau – movimento estético que durou do final do século 19 até as duas primeiras décadas do século 20.
Também de caráter retrô são os bordados aplicados nos primeiros looks em sarja, lamê, tule, lã e lã canelada, nas cores preto, off –white, azul, creme e doce de leite. Mas engana-se quem acreditou que, com os bordados de coelhinhos, casinhas, gatinhos e até um body todo de ursinhos, o desfile rumava para um lado adocicado. A marca Gêmeas sempre construiu roupas para mulheres femininas porém fortes.
Por isso, na segunda parte do desfile ressalta-se a parte geométrica que até então aparecia apenas como pano de fundo para essa certa docilidade infantil dos bordados. Nela, um elemento importante domina a cena, a camurça, exatamente o material que é feito polindo a pele interna de porcos, cabras e bezerros. Enfim, a camurça que apenas surge quando polido o interior da pele animal ajuda a trazer para primeiro plano as formas geométricas que estavam interiorizadas pela força dos bordados. E com elas, as formas geométricas, ficam mais claro o trabalho das estilistas na composição de ombros mais amplos, fortes, porém sem a agressividade do power dressing.
Para também dar mais força a essa imagem, o stylist David Pollack escolheu a maquiagem como foco: ressaltou tanto a boca como os olhos, o que a princípio é considerado um erro, mas acabou funcionando, pois estamos na terreno do lúdico.
Mas nesse jogo não tem vencedor. No último look, um vestido azul esverdeado, pequenos bordados e forma geométrica quase se transformando em orgânica convivem no mesmo plano de igualdade assim como o masculino e feminino da grife. Aliás foi um sonho dos anos 20, as mulheres se igualarem com os homens e hoje, em 2009, as Gêmeas fazem exatamente o contrário nessa coleção, igualam os homens às mulheres num belo domingo no parque.